14 de set. de 2013

Mangá Japonês tem narrativa bíblica como fundamento do Enredo.

Oi pessoal! Espero não tê-los deixados entediados de tanto esperar por uma postagem (tempo muito corrido!). O Super Leitura de hoje irá abordar um tema que eu considero "polêmico" (sim aspas no polêmico), e que acredito fazer parte das rodas de debates de muitos grupos sociais que tem na literatura e no audiovisual algo maior que um passatempo, mas um estilo de viver.

Como vocês estão cansados de saber eu sou uma pessoa que curte o cenário cultural oriental, especificamente falando de música, mangás, games e animes (ou seja um verdadeiro otaku). E considero extremamente importante dividir com vocês um pouco dessa experiência pessoal, que embora seja motivo de críticas por muitos, está intrínseco ao meu cotidiano como comunicador.

Deixemos então de blá, blá, blá e vamos ao que interessa!


Quem ainda não ouviu falar de Naruto? É! Aquele anime super pop sobre o universo ninja! Só para não deixar ninguém divagando por não conhecer (e espero que procure fazer isso com urgência após esta matéria) vem a tradicional (ou como dirão algum: clichê) resenha.

Ninjas e as Bijuus (demônios com caudas)
Naruto é um anime que se passa em um universo alternativo onde a Terra é dominada por ninja que se dividem em cinco grandes nações e outras tantas menores. O protagonista Naruto Uzumaki é uma criança que sofre com o preconceito dos moradores da vila onde habita pelo simples fato de carregar uma Bijuu (demônio de cauda) dentro de seu corpo. Uma trama cheia de mistérios, combates emocionantes e um apelo exagerado para vitória, amizade e humildade (o lema do estilo shonnen nos mangás nipônicos) que possui altos e baixos como toda narrativa seriada que se estende durante anos. Mas que finalmente parece estar chegando a um clímax final.

Quem acompanha o mangá/anime sabe que a bola da vez na série e a "Quarta Grande Guerra Ninja". Pausa por aqui! Não vou fazer uma retrospectiva! Não é o objetivo! Hoje, como manda o lema deste blog, irei fazer uma análise sobre esse produto midiático que é febre mundial.

Para ser mais detalhista possível escolhi o capítulo de número 646 do mangá. Esse capítulo foi lançado essa semana e contém muitas revelações para o enredo principal. No entanto não é o fato das revelações em si que chamam a atenção, mas sim características presentes na linha de continuidade e criação do enredo.
Basicamente esse capítulo reintroduz na estória a "Tábuas dos Uchihas" (O que é isso? Explique!) mantenham a calma. Vou explicar. Em determinado momento da série nos é apresentado uma tábua de pedra onde se dizia que um segredo importante da história do mundo estava guardado, mas que ninguém consegue ler ou interpretar. Os Uchihas são um clã de ninjas antigo dotados de poderes especiais que detém a guarda do artefato.

Em meio a avalanche de combates,mortes e poderes Masashi Kishimoto (autor do mangá) invoca novamente a presença do artefato para a continuidade do enredo. E como ele faz isso? Lógico que revelando! A misteriosa pedra tem seu segredo desvendado. Segundo os relatos do personagem Madara Uchiha, o único capaz de ler a pedra devido a uma habilidade especial, o aterfato conta a história da raça humana, sua sede por guerras e a criação do chakra (a entidade/poder de domínio dos ninjas). É aqui que peço sua atenção.

Madara Uchiha
Segundo Madara, a raça humana já vivia em guerra antes mesmo de dominar o "chakra". E com isso em nenhum lugar existia paz, a não ser no território sagrado do Shinju (Árvore de Deus) que dizia-se ser o representante do Criador  na Terra. Um dia esta árvore dera um fruto, que só nasce a cada mil anos, e uma mulher temendo pelo futuro dos homens provou da fruta. A partir de então ela adquiriu os "poderes divinos" provenientes da árvore. Anos depois teve um filho,que nasceu com os mesmo poderes, ou melhor dizendo nasceu com chakra. Essa criança enfureceu o Shinju que abandonou sua forma de árvore e virando um demônio tentou reaver os poderes perdidos. A criança derrotou o Shinju e aprisionou-o dentro de si em nove partes (os nove demônios de cauda). Após isso ele ensinou os homens a dominarem o chakra, o que levou a humanidade a condição onde uma quarta guerra mundial coloca em risco a vida dos homens no planeta.

De fato como  já é de se esperar nas produções japonesas, o prevalecimento das mitologias é forte. Exemplos disso são Cavaleiros do Zodíaco (mitologia grega), Shurato (mitologia hindu), El Hazard (magia e druidismo). E é esse o ponto da análise em questão. Se segmentarmos trechos do relato de Madara (aí seria muito bom que você leia depois o mangá) iremos extrair elementos conhecidíssimos do povo brasileiro.

1. Uma tábua com registros históricos/divinos;
2. Uma árvore que provém de Deus e o seu solo sagrado;
3. A mulher que come da fruta da árvore;

Um quatro elemento a ser citado (e de conhecimento dos fãs da série) é uma profecia entorno de uma criança que devolveria a humanidade a relativa paz existente até o momento em que a fruta do Shinju é devorada.
Representação da narrativa bíblica de Adão e Eva

Se abrirmos nossas consciência ao menos que seja por uns poucos segundos e buscarmos, tendo em mente que todo produto narrativo/midiático parte do princípio de que são relatos e vivências do autor formuladas em conceitos e características pré-existentes no cenário ficcional e não-ficcional, perceberemos que os elementos citados a cima estão diretamente ligados a conceitos cristãos. Como? Acompanhe comigo:

Elemento 1: tábua com registros históricos/divinos.
Esse elemento assemelha-se ao contexto histórico e literário do Êxodo, livro que está presente na Bíblia Cristã, onde um povo escolhido por Deus recebe de suas mãos uma tábua onde estão escritos seus mandamentos. Outro item de semelhança é com a própria Bíblia, mas especificamente falando o seu primeiro livro: Gênesis. Este livro que em grego significa literalmente começo é replicado na narrativa juvenil de Kishimoto. O que nos leva ao elemento 2.

Elemento 2: árvore de Deus e solo sagrado.
Segundo o Gênesis, Deus criou um lindo jardim e nele colocou duas árvores. Uma que garantiria a vida eterna e a outra que detinha o conhecimento do bem e do mal. A ambas proibiu que comecem dos frutos.
Comparando a animação temos um solo sagrado (o jardim do Éden) e uma árvore, que pode ser equiparada a "Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal". Percebeu que há uma relação? Curioso para o Elemento 3? Acredito que já descobriu.

Elemento 3: A mulher que come da fruta da árvore.
Ainda no Gênesis conhecemos Eva, a primeira mulher. Esta desobedecendo aos mandados do Todo-Poderoso come da fruta junto do marido Adão e ambos passam a ter conhecimento do que são, como estão e de suas capacidades como criaturas. Embora você possa dizer que o relato no mangá ganha proporções maiores do que se encontra presente na Bíblia, é inevitável dizer que não é Eva a ser representada na historinha da Pedra dos Uchihas.

Elemento 4: As consequências da transgressão de Eva levam o homem para fora do jardim. Mas Deus promete resgata o homem enviando-lhe seu único filho para trazer a humanidade de volta a seus caminhos. O protagonista Naruto, que é o centro da profecia apesentada na metade da série, seria a criança responsável por levar o homem de volta a paz, mesmo sendo essa um conceito relativo no universo dos ninjas.

Pode parecer que estou querendo "tirar um coelho da cartola", no entanto hoje queria dividir essa experiência vida por mim no dia em que li o capítulo em questão. Garanto a vocês que o que estou dizendo tem fundamento. Grandes escritores de fantasia tem nos relatos da humanidade fontes inenarráveis e inesgotáveis de criatividade para suas obras. Os japoneses elevam isso a enésima potência se é que me entende.

página do capítulo 646 do mangá Naruto
A análise de hoje tem objetivo de despertar em você essa curiosidade. Da próxima vez que for ler um livro, mangá, quadrinho; assistir um filme, uma série, animação que tenha traços de fantasia faça um jogo com você mesmo. Descubra quais são as fontes do autor e como ele adapta tais elementos mitológicos, religiosos e históricos em suas narrativas.

Quem tá lembrado, a uns dias atrás fiz uma análise interessante sobre o universo de Game of Thrones e suas características semelhantes a nossa história e geografia ocidental.


Espero ter despertado esse gostinho que considero alucinante, que é criar e desvendar as teorias por trás fontes das histórias que lemos e assistimos.

Até a próxima pessoal e caprichem nos Super Comentários!!! 

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