13 de jul. de 2014

[LITERATURA EM XEQUE] Comicidade, Erotismo e um Autor Participativo. Da pastora de cabras, Tieta do Agreste.




O desafio de ler nacionais na verdade não parece ser um desafio. É tudo uma questão de ponto de vista. A palavra desafio remete a algo difícil de ser conquistado, que exerce empenho fora do comum. Mas eu (Saylon Sousa) administrador deste blog provo a cada dia que isso não é impossível. Entrei numa jornada nova. Sinto falta de consumir nacionais (clássicos e atuais), tanto que me aventurei pelos caminhos secretos da Biblioteca Central da UFMA a fim de encontrar "tesouros" da nossa tão surpreendente literatura.

Se disser para vocês que encontrei Machado de Assis em edições quase que centenárias... Mas vamos ao motivo deste LITERATURA EM XEQUE: "Tieta do Agreste" de Jorge Amado. Para ser mais preciso: TIETA DO AGRESTE, PASTORA DE CABRAS OU A VOLTA DA FILHA PRÓDIGA, MELODRAMÁTICO FOLHETIM E CINCO SENSACIONAIS EPISÓDIOS E COMOVENTE EPÍLOGO: EMOÇÃO E SUSPENSE! Como o próprio autor batizou.

O folhetim (como o próprio baiano esclarece nas linhas que escreveu) é um misto de comicidade, eroticidade, virtuosidade e demais "dades" que possa imaginar. Parábola moral e política que reelabora - em um viés brasileiro - o argumento da peça "A visita da velha senhora" (1956), de Friedrich Dürrenmatt. Escrito em 1977 Tieta do Agreste provou seu valor como destaque da literatura nacional ao conquistar espaço na TV e no Cinema. O que em terras tupiniquins são esforços avassaladores e sinônimo de louros de ouro para qualquer um.

Mas vamos comentar sobre esse trabalho de Jorge Amado, que, confesso, foi muito mais do que esperava.

1). Santana do Agreste: A cidade não é apenas um cenário. É um personagem! A forma como o enredo se desenvolve ao redor da pacata cidade do sertão dão uma dinâmica majestosa à leitura. Você conhece cada morador, rua e causos do pequeno povoamento. Imagina-se preso aquele lugar. Uma dica: se você não se dispõe a "andar" por entre as ruas e becos de Santana do Agreste, não entenderá o desenrolar da narrativa.

2). O Erotismo: Sim. O erotismo. Esse é um ponto alto para Jorge Amado. Não é só em Tieta do Agreste que percebemos isso. Em "Gabriela, cravo e canela", o baiano demostra seu apelo sexual para atrair leitores. Na obra em xeque isso é presenciado com todo o lado cômico que envolve as personagens e o autor (que por sinal é um safadinho). Afinal usar termos como 'xibiu' e 'ípslone' para descrever partes intimas e posições eróticas não só provocam aquelas sensações calorosas no leitor, que se impressiona com os detalhes de cena, mas também gargalhadas cheias de alívio.

3). O Autor: Sim. O autor. Jorge Amado é um entrosado. Ele sempre interrompe a narrativa para esclarecer possíveis dúvidas que acredita ter deixado no decorrer da leitura; para criticar/elogiar a atitude de alguma personagem; ou para conversar. Isso mesmo: conversar. Podemos dizer que existem duas histórias. A de Tieta e seus conterrâneos, e a do autor. Outra característica marcante do autor é sua paixão por hipérboles. Desde o título, aqui já citado, e os capítulos da narrativa percebe-se uma tendência por frases exageradas e cheias de comicidade. 

Num livro onde putas são santas e heroínas, impera a originalidade de um brasileiro, que sedento de ver seu país retratado em linhas literária não se contém no abuso de usar expressões e comportamentos camuflados por todos. Ah literatura nacional! Por que é tão versátil?! O próximo LITERATURA EM XEQUE já está em processo de produção. Vamos deixar os clássicos de lado e analisar mais um jovem autor.

Até a próxima!

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