16 de mar. de 2014

Relações de Amor e Ódio: Uma análise do dualogismo em Senhora e O Morro dos Ventos Uivantes.



Primeiro quero me desculpar com os leitores por não haver postado nada a dois domingos. Problemas de conexão com a web me forçaram a tamanha falta para com vocês.
Mas agora estou de volta e aproveito o tempo para reanimá-los com um tema profundamente importante quando se fala de literatura: a dualogia .

CONFIRA DEFINIÇÕES DE DUALOGIA EXTRAÍDAS DA WEB:

1) É o tratado do dual. Vários são os conceitos de dualogia. Eles variam conforme a classificação a que se dispuser. A dualogia estuda as dualidades reais e irreais;

2) Segundo o livro "Ensaio de Dualogia",(no prelo), o autor Diorgenes B.C. Alves, diz que não existe uma definição para o termo em epígrafe. Pois,o termo é de uma grande abrangência e definir significa limitar de alguma forma. Todavia, o conceito mais preciso e com uma amplitude maior é o de que, dualogia é o tratado sobre as dualidades do universo. Segundo a própria dualogia, duas dimensões existem no univeros. Dimensão espiritual e dimensão material. ...Nesse sentido, temos que a dualogia é um instrumento operador, para se processar a dualogização do conhecimento convencional humano para desvendar o conhecimento não convencional... A dualogia, considerada o quinto grau do saber, tem a pretensão de ordenar o conhecimento convencional segundo ângulo de visão dualógico e reformular o saber humano sob um novo paradigma.


Percebe-se, em contextos distintos, o nível ao qual se pode chegar quando se estuda tal elemento psíquico como a dualogia. Entretanto não é nosso objetivo estudá-la. Subentendido que saibamos do que ela se trata vamos ao ponto particular deste texto. As relações de Amor e Ódio. Há um dualogismo preeminente entre essas duas formas sentimentais que povoam nossas mentes e, é claro, o campo literário. 

Com base na leitura de dois livros, clássicos distintos no universo literário, compreenderemos essa relação dualógica que esses sentimentos despertam na existência do leitor que dispões de ambas em textos tão venerados da literatura. 

1. O AMOR:
Para falar de amor o livro citado é o clássico da literatura nacional "Senhora" de José de Alencar. A obra exprime em suas linhas o amor de Aurélia Camargo, uma senhora da alta sociedade brasileira, por Fernando Seixas, um rapazola que vive de aparências, com quem namorou quando mais moça. No entanto, este mesmo amor é um elemento de misericórdia durante toda a leitura, já que ações carregadas de rancor e humilhação são as passagens ao qual nos submetemos a ler até a redenção do nobre sentimento.

2. O ÓDIO:
Indo de contrapartida ao texto do nosso compatriota temos "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë. Embora a narrativa tenha certas similaridades vemos Heathcliff, seu protagonista, mudar suas características sentimentais para nutrir um ódio que o consumiu até o final. Tudo por causa de uma paixão nunca vívida verdadeiramente com Catherine Earnshaw.

Como destacar o dualogismo presente nessas estórias? Bom farei agora uma análise baseada nas minhas experiências com as leituras.

Começo por "Senhora". Diante de um clássico do século XIX, com ambientação urbana de um brasil provinciano, é difícil se produzir uma leitura sem especulações. O estilo literário do romantismo presente na obra trás um contraste fortíssimo entre as características de identificação do personagem. Sabe-se que somente no Realismo é que as noções de bem/mal, mocinho/vilão foram deixando de se apresentarem como imutáveis. Um dos autores a colocar isso em prática é Manuel Antônio de Almeida. (VER MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS).
Particularmente vejo aqui uma fuga desse paradigma. Embora tenhamos consciência do protagonismo de Aurélia (sendo ela a caricata mocinha), ela toma atitudes que nos fazem repensar. Isso muito mais quando se trata do que acontece a Fernando Seixas. Um personagem que não nos faz o amar, em princípio, convoca a nossa compaixão ao extremo e pede que torçamos por ele durante o decorrer do enredo. Aqui acredito haver um dualogismo entre os dois protagonista que representam, com o perdão da paráfase, " o lado bom"  o "lado mal da força". Destaco o amor como o elemento de relação por destacar que houve sempre entre eles esse contraponto que amenizasse o dualogismo presente em suas existências.

Já no caso de "O Morro dos Ventos Uivantes" digo que não há até hoje, para o meu universo e bagagem literária, personagem que mereça meu ódio como Heathcliff. Enlouquecido por uma paixão que de fato não seria concretizada, se esquece de sua infância e deixa esse sentimento perverso o dominar.E o pior, faz com que terceiros sofram por suas dores. Se alguém ama a Heathcliff, seja no mundo da obra de Emily Brontë, ou o leitor que se aventura na obra, é de se admirar. Tal personagem é a citação perfeita para o ditado "da água para o vinho".
O dualogismo presente na obra se dá nas relações de ódio que martirizam o leitor enquanto Nelly Dean conta a história de vida do homem. Ainda que o final seja feliz como em Senhora. Heathcliff não se faz presente neste, e nos ensina que quem faz o mal paga com mal.


Se você já leu as duas obras acho que entende do que falo. Como duas obras com enredo tão similares podem ser tão diferentes? Sei que essa pergunta parece estúpida, mas o que quero dizer é: Qual a importância do dualogismo para a construção de uma estória? A resposta é simples. Em relações de amor e ódio, ou em qualquer uma outra, deve-se sempre saber que há mais de uma opção. A representação do real no ficcional é o que fazem desses textos poderosos argumentos de que a literatura é um espelho do mundo. E você: Será que é capaz de distinguir o quão dualógico é esse campo tão engimático que é a Literatura?


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